segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Irmãos Campana reúne algumas peças na mostra "Anticorpos" em São Paulo.

Há quem considere as obras dos designers Fernando e Humberto Campana surrealistas. Uma cadeira feita de bichos de pelúcia pode parecer infantil, diz Humberto, mas ela tem lá algo de "perversidade". A poltrona Banquete (2002) é como uma pequena selva de animais para se sentar. Já outra peça, Cabana (2010), remete às ocas indígenas, é feita de ramos de palha e temos de abrir essa cobertura para entrever - ou usar - as prateleiras de seu interior. Certo "choque estético", "benéfico", como já afirmou o crítico Marco Romanelli sobre as obras dos irmãos Campana, tornou-se a marca de originalidade que fez da dupla a mais famosa do design brasileiro. Foram anos para os irmãos criarem, enfim, uma "linguagem", cheia de ramificações e do uso de materiais inusitados.


Agora, as peças Banquete e Cabana entre quase 180 obras dos designers paulistas - diga-se, surrealistas também, como o sofá Jacaré, por exemplo, e outras nem tanto - estão reunidas em uma retrospectiva que apresenta a trajetória da dupla, a mostra "Anticorpos - Fernando e Humberto Campana - 1989-2009", que será inaugurada amanhã no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo. "É uma exposição focada nos processos criativos", diz Humberto, de 58 anos. "Muito dos métodos vem das descobertas, dos erros - materializar o erro é o mais difícil, é uma obra que beira o acaso, mas tem engenharia", completa Fernando, de 50 anos. Consagrados pela experimentação e por unirem o aspecto artesanal na criação de suas obras, os irmãos afirmam carregar uma "curiosidade" que já os instigava desde a infância no interior paulista, nas cidades de Rio Claro e de Brotas.

Retrospectiva preparada pelo museu Vitra Design de Weil am Rhein, na Alemanha, a exposição foi inaugurada em 2009 na instituição alemã. Desde então, vem percorrendo a Europa e o Brasil - já foi apresentada em Vila Velha (ES) e em Brasília. Depois de São Paulo, "Anticorpos" seguirá para o Rio e mais adiante, ainda, para Argentina, Chile, EUA e Ásia. "A cada montagem a exposição se contemporaniza com novas peças", diz Fernando Campana.

Com curadoria de Mathias Schwartz-Clauss, do Vitra Design, a mostra trava como marco 1989, quando os irmãos realizaram a primeira mostra, no espaço Nucleon 8, na Vila Madalena. A exposição tinha um título provocativo, "Desconfortáveis", com obras que remetiam a cadeiras e poltronas de ferro. "Não queríamos fazer cadeiras, mas esculturas, uma instalação, algo contrário ao período que passamos pela ditadura militar, de ver pelo erro, pelo torto", diz Fernando. Um conjunto desses trabalhos está na retrospectiva, entre elas, as cadeiras Negativo e Positivo (1988) e Martelo (1989).

A mostra, assim, se segue, mas não de forma cronológica. Concebida a partir de núcleos que destacam questões próprias da linguagem dos Campana - como o agrupamento de materiais (banais ou não), a fragmentação, as formas orgânicas, os planos flexionados, os objetos de papel, os objets trouvés, os nós, as varetas, os híbridos, os emaranhados de linhas -, a exposição ainda ''pincela'' objetos pessoais dos designers.

Sem dúvida, o marco da trajetória dos Campana foi a criação da poltrona Vermelha (1993). Em 1998, a marca italiana Edra decidiu produzir em série a peça feita com cordas de algodão tingidas. Fato que tornou famosa a obra e a dupla internacionalmente. A obra foi adquirida pelo MoMA de Nova York e, para se ter ideia, a Vermelha é vendida no Brasil pela Firma Casa por 12 mil. "É raro ver um design produzido em massa no Brasil, ainda não conseguimos", diz Humberto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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